
Scott Derrickson aposta alto, mas será que consegue equilibrar tantos gêneros?
A nova produção Entre Montanhas, do renomado diretor Scott Derrickson (O Telefone Preto, A Entidade), chega ao Apple TV+ com a promessa de ser uma experiência cinematográfica única. Misturando suspense, comédia romântica, terror e ação, o longa estrelado por Anya Taylor-Joy e Miles Teller tenta navegar por diferentes gêneros. Mas será que essa abordagem ousada funciona ou apenas dilui a experiência?
Uma Premissa Promissora, Mas de Execução Irregular
Se existe algo que Entre Montanhas tem de sobra, é uma premissa intrigante. A trama acompanha dois atiradores de elite—um americano, vivido por Miles Teller, e uma bielorrussa, interpretada por Anya Taylor-Joy—designados para vigiar um desfiladeiro remoto, envolto em névoa, sem qualquer comunicação entre si. Para ambos, a missão representa uma fuga: ele, incapaz de se encaixar na sociedade; ela, tentando evitar os pensamentos sobre a iminente perda de seu pai.
O isolamento forçado se torna ainda mais tenso quando algo misterioso começa a emergir das profundezas do cânion. O que começa como um thriller tenso rapidamente se transforma em uma experiência híbrida, transitando por diferentes gêneros de forma inesperada e, às vezes, confusa.
Mudanças Bruscas de Tom: Um Risco que Nem Sempre Compensa
A principal aposta do filme é sua capacidade de navegar entre gêneros distintos. O suspense militar do início dá lugar a uma comédia romântica inesperada quando os protagonistas, desafiando ordens, começam a se comunicar através de mensagens escritas em cartazes. Esse momento, quase uma referência a videoclipes de Taylor Swift, adiciona um charme inesperado ao longa. Porém, a transição para o romance é abrupta, e o tom do filme parece perder o foco.
Quando finalmente o longa decide retornar ao suspense e ao terror, a mudança é igualmente drástica. O que era uma história sobre solidão e conexão humana rapidamente se torna um survival horror, com os protagonistas lutando para sobreviver a criaturas que emergem do cânion. Esse vaivém narrativo poderia funcionar melhor se houvesse um fio condutor mais sólido ligando as transições, mas Derrickson parece sempre um passo atrás, tentando equilibrar os elementos sem muito sucesso.
Fotografia e Direção de Arte: Um Visual Frio e Pouco Inspirado
Para um filme ambientado em um cenário natural tão rico como um desfiladeiro remoto, Entre Montanhas peca na falta de criatividade visual. Os cenários artificiais e o excesso de névoa digitalizada dão ao longa uma estética estéril, que pouco contribui para a imersão do espectador. A cinematografia, que poderia ser uma das grandes aliadas na construção da tensão, acaba sendo funcional, mas nada marcante.
Derrickson, que em outros trabalhos demonstrou um olhar mais apurado para o terror psicológico e o uso da luz e sombras, aqui parece preso a um visual genérico que pouco adiciona à narrativa. Há alguns momentos de brilho, especialmente no terceiro ato, quando o horror finalmente assume o protagonismo, mas eles são esporádicos demais para salvar a experiência como um todo.
Anya Taylor-Joy e Miles Teller: Uma Dupla que Brilha em Momentos, Mas Falha na Química
Se há algo que sustenta Entre Montanhas, são suas atuações. Anya Taylor-Joy, como sempre, entrega uma performance envolvente e magnética. Sua personagem, apesar de pouco aprofundada pelo roteiro, ganha camadas graças à expressividade da atriz. Teller, por sua vez, faz um trabalho competente, embora sua interpretação pareça mais mecânica em certos momentos.
O grande problema é a falta de química entre os dois. Para um filme que tenta se apoiar no romance como um de seus pilares, a conexão entre os protagonistas precisava ser mais palpável. Os diálogos expositivos e a falta de naturalidade no desenvolvimento da relação fazem com que o romance pareça forçado, enfraquecendo um dos principais aspectos da narrativa.
Os Momentos de Terror: O Brilho de Derrickson No Terceiro Ato
Quando o longa finalmente abraça seu lado sombrio, Derrickson consegue recuperar parte do seu prestígio como diretor de terror. As criaturas que emergem do desfiladeiro, apesar de pouco exploradas, rendem sequências tensas e bem dirigidas. A primeira grande batalha dos protagonistas contra os seres do cânion é, sem dúvidas, um dos momentos mais eletrizantes do filme.
Se o roteiro tivesse investido mais na construção desse mistério desde o início, em vez de tentar encaixar tantos gêneros, Entre Montanhas poderia ter sido uma experiência muito mais envolvente. O problema é que, quando o terror finalmente se estabelece, já é tarde demais para corrigir os problemas estruturais do longa.
Conclusão: Uma Mistura de Gêneros que Não se Sustenta
Para quem busca um suspense leve, com toques de ficção científica e terror, Entre Montanhas pode ser uma opção interessante. No entanto, aqueles que esperam uma experiência coesa e memorável podem se decepcionar com as mudanças bruscas de tom e a execução inconsistente. No final, o longa acaba sendo uma experiência de altos e baixos—com momentos que brilham, mas que não conseguem sustentar a narrativa como um todo.
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